Quiroprática: caracterização e perfil profissional

Introdução

A Quiroprática desenvolveu-se como teoria e como arte terapêutica independente da Medicina dita clássica e do seu ensino, porque a nova disciplina edificou o seu próprio sistema de formação teórica e clínica.

Daí as medidas legislativas que lhe deram reconhecimento, não só na América, Canadá, Nova Zelândia e Austrália, mas também no seio da União Europeia. A Suíça, a Noruega, a Suécia, a Finlândia, a Dinamarca e a Grã-Bretanha integraram o exercício da Quiroprática no Direito da Saúde Pública (Lei de 5 de julho de 1994). Na Europa, a Quiroprática é ensinada desde 1965 na Grã-bretanha (Anglo- European College Of Chiropractic – University de Portsmouth e na University of Glamorgan), na França (Institute Français de Chiropractie à Paris), na Dinamarca (Nordisk Institut for Kiropraktik og Klinisk Biomekanik – Université de Odense) e em Espanha – Madrid (Maria Cristina Royal University) e Barcelona (Barcelona College of Chiropractic – Universitat Pompeu Fabra) .

O ensino é exclusivamente assegurado nestas instituições denominadas Colleges of Chiropractic e nas suas clínicas públicas, sendo concluído com o título de “Doctor of Chiropractic”, D.C..

Os “Colleges” ou faculdades têm de ser homologados pelo Council Of Chiropractic Education, (CCE) organismo que superintende nos Estados Unidos e está habilitado pelo departamento federal da saúde a fim de controlar o Ensino e zelar pelo respeito das normas impostas a estes estabelecimentos.

As Instituições similares ao CCE que foram constituídas no Canadá, na Austrália e na Europa (European Council Of Chiropractic Education) http://www.cce-europe.com/institutions.php, estão ligadas ao CCE americano por acordos que asseguram a reciprocidade internacional dos diplomas através do CCE I (Council on Chiropractic Eduction International) http: //www.cceintl.org .

1 .  Caracterização da Profissão – Quiroprática

A Quiroprática define-se como um ramo particular das artes de curar que se apoia em métodos muito específicos aplicados à prevenção, à deteção, à patologia e ao tratamento das perturbações do sistema nervoso e músculo-esquelético em relação com todos os outros sistemas do corpo humano, saudáveis ou não, dedicando uma atenção especial à coluna vertebral. É uma ciência independente e distinta das outras artes medicinais, precisamente porque utiliza os poderes inerentes e recuperadores do corpo humano. Dá particular relevância à relação existente entre a estrutura vertebral, principalmente o crânio, bacia, sistema locomotor e o funcionamento do sistema nervoso, pois que a transmissão normal e a expressão da energia do nervo são essenciais para a restauração e preservação da saúde.

O quiroprático é um profissional de saúde que considera o ser humano na sua globalidade. Intervém também nos hábitos de vida do paciente e procura corrigi-los quando tal se torna necessário, através do repouso, da reabilitação, do exercício físico, da alimentação e de todas as outras formas suscetíveis de influenciar o bem-estar físico, mental ou social.

A Quiroprática foi a primeira profissão a deixar de recorrer a medicamentos para tratar os distúrbios do sistema neuro-músculo-esquelético, estabelecendo a ligação entre a saúde física, e neurológica, a saúde individual e social. Esta ciência representa uma abordagem realmente holística dos cuidados de saúde.

Como profissão científica do ramo da saúde, é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde.

2 . Campo de Atuação do Quiroprático

O quiroprático é um profissional de primeiro contacto habilitado a fazer um diagnóstico, a estabelecer um prognóstico e a determinar a natureza e a frequência dos exames e dos tratamentos, necessários em cada um dos casos em que é chamado a intervir. Por consequência, está apto a determinar as indicações e as contra-indicações dos tratamentos quiropráticos e a pronunciar-se sobre o estado do paciente para que este possa ser reencaminhado, em caso de insucesso, para os diversos regimes de cuidados de saúde públicos ou privados.

2.1. Ao nível do diagnóstico

2.1.1. O quiroprático é responsável por realizar uma entrevista a fim de obter um perfil geral do paciente;

2.1.2. O quiroprático efetua exames físicos, neurológicos e ortopédicos aos seus pacientes, na execução dos quais utiliza técnicas e instrumentos reconhecidos pela ciência quiroprática;

2.1.3. O quiroprático realiza, ou manda realizar, exames radiológicos de acordo com os procedimentos indicados para o diagnóstico quiroprático;

2.1.4. O quiroprático realiza e prescreve testes, exames e análises ao estado de saúde do paciente com vista a avaliar a adequação e a eficácia do tratamento ou no contexto de um programa de prevenção de doenças. É também responsável por proceder a exames periódicos de controlo e de reavaliação necessários para avaliar os progressos do paciente em tratamento e para se manter atualizado no conhecimento do caso de cada paciente.

2.2.    Após o diagnóstico e a definição do plano de tratamentos

2.2.1. O quiroprático procede aos tratamentos com as técnicas e procedimentos reconhecidos pela ciência quiroprática. De entre os tratamentos para os quais está habilitado, as correções da coluna vertebral, da bacia e das outras articulações do corpo através das mãos são-lhe exclusivas e não podem ser executadas por ninguém para além do quiroprático;

2.2.2. O quiroprático aconselha o seu paciente no que respeita à nutrição e aos suplementos nutritivos, sempre que tais cuidados sejam necessários na correção de determinadas desordens ou no progresso e na manutenção da saúde global do paciente;

2.2.3. O quiroprático executa e pode mandar executar terapias físicas de vária natureza, que têm como objetivo completar e otimizar os efeitos dos tratamentos quiropráticos. Essas terapias podem incluir por exemplo a utilização de tração, de diatermia, de correntes galvânicas, de ultrassons, de infravermelhos de raios ultravioletas, massagens, banhos de parafina, compressas quentes e frias, terapia meridiana e de ortéses. O quiroprático está habilitado para prestar tratamentos de primeiros socorros, para colocar ligaduras e, em caso de ferimentos nas extremidades, para colocar talas. Pode recorrer a colares cervicais, a coletes e a outros aparelhos ortopédicos para tratar o pescoço, os braços, as costas, os cotovelos, os joelhos, os tornozelos e outras áreas do corpo com o objetivo de ajudar na cura e de otimizar a recuperação da parte lesada;

2.2.4. O quiroprático aconselha o seu paciente no que se refere a hábitos de vida, atitude mental, à vida afetiva, à segurança, a condições de trabalho e a lazer. Aconselha-o também relativamente a qualquer outra atividade habitual que seja suscetível de se repercutir positiva ou negativamente na eficácia do tratamento quiroprático. Importa referir que os cuidados quiropráticos efetuam-se segundo uma abordagem completa e global do paciente e têm influência na sua saúde (física, mental e social), no seu bem-estar e na sua sobrevivência;

2.2.5. O quiroprático faz avaliações e aconselha profissionais no mundo do trabalho: na prevenção de acidentes de trabalho, de doenças profissionais e ainda de acidentes rodoviários;

2.2.6. O quiroprático realiza conferências e participa em programas de formação sobre qualquer assunto ligado à saúde. Pode, de igual modo, dedicar-se ao ensino da quiroprática, à investigação, assim como à redação de artigos, à elaboração de relatórios e de outros escritos para publicação;

2.2.7. O quiroprático pode especializar-se em determinadas áreas específicas da quiroprática, tais como ortopedia quiroprática, a radiologia de diagnóstico, a nutrição, as ciências clínicas e o tratamento de lesões desportivas. Pode possuir o grau de “Fellow” ou de “Diplomate” numa dessas áreas após a realização de estudos de pós-doutoramento e a aprovação em exames da especialidade, instituídos pelos diferentes estabelecimentos especializados em cada uma das áreas existentes;

2.2.8. O quiroprático pode exercer a quiroprática no geral, ou dedicar-se especificamente a determinados tipos de problemas ou de pacientes. Ele pode ocupar-se, por exemplo, dos problemas das crianças ou dos idosos, do tratamento das doenças profissionais, das lesões desportivas ou dos problemas de saúde ligados ao trabalho. Enquanto alguns quiropráticos se dedicam ao tratamento de problemas de saúde particulares, outros consagram-se ao tratamento das desordens músculo-esqueléticas.

Determinados quiropráticos restringem a sua intervenção ao tratamento dos sintomas e das manifestações graves dos problemas dos pacientes, enquanto outros se ocupam do tratamento das doenças crónicas e degenerativas, assim como da reabilitação.

Todos estes tipos de práticas são permitidos pelas autoridades quiropráticas que regem o exercício desta profissão. Os quiropráticos que entendem concentrar o seu trabalho em determinada prática, possuem conhecimentos e formação suficientes para a exercerem. Esta não deve ser confundida com especialidade quiroprática. A especialidade quiroprática está sujeita a uma regulamentação precisa e a controlos particulares realizados pelas corporações profissionais, responsáveis pelo exercício da quiroprática em cada província ou estado.

Em síntese, os especialistas em quiroprática estão habilitados pela sua formação a tratar um vasto leque de problemas de saúde. Os seus tratamentos são realizados com métodos naturais, isto é, sem recorrerem a medicamentos nem à cirurgia. O quiroprático, que designamos também de doutor de quiroprática, pode trabalhar só ou em grupo ou ainda estar ao serviço de um ou mais quiropráticos.

3. Qualificação e Especialidades em Quiroprática

A formação académica e clínica de um quiroprático qualificado é de nível académico universitário, reconhecida e supervisionada internacionalmente em todas as faculdades e universidades do mundo, pelo Council Of Chiropratic Education (CCE), que a controla. O quiroprático possui uma sólida formação em neurologia, ortopedia e em biomecânica. A intervenção quiroprática procura reduzir o stress que se pode repercutir no sistema nervoso. Quanto menores forem as interferências no sistema nervoso, maiores as capacidades de auto-cura do corpo humano. O campo de atuação do quiroprático estende-se geralmente aos problemas que têm origem no sistema nervoso, no sistema muscular e esquelético, assim como às relações destes três sistemas com o resto do corpo. Alguns quiropráticos especializam-se num domínio específico do campo de atuação da quiroprática. Apresentamos uma lista das várias especialidades e dos campos de interesse quiroprático:

3.1. Especialidades

As especialidades quiropráticas correspondem a programas de permanência ministrados por uma instituição creditada. São programas a tempo inteiro com uma duração que varia entre 2 a 4 anos. As áreas abordadas são as seguintes:

  • Radiologia

  • Ciências clínicas

  • Desporto

  • Readaptação

3.2. Campos de interesse

Os campos de interesse quiroprático são programas de pós-graduação a tempo parcial que dão acesso a um título mediante a aprovação nos exames. Para poder realizar o exame de pós-graduação, o quiroprático deve assistir a um determinado número de horas de aulas (geralmente entre 300 e 400 horas) ministradas por uma instituição de quiroprática creditada. Eis uma lista dos campos de interesse quiroprático:

  • Neurologia

  • Ortopedia

  • Nutrição

  • Pediatria

3.3. Condições de Acesso à Formação e Vertentes de Aprendizagem

Para ter acesso aos estudos de quiroprática, o candidato deve ter adquirido um diploma de estudos pré-universitários em Ciências da Natureza e previamente as disciplinas de matemática, física, química orgânica e biologia. Em Portugal, o 12º ano com êxito na área das ciências, com ênfase nas disciplinas de matemática, física, química e biologia.

Nos estabelecimentos de ensino quiroprático homologados pelo Council of Chiropractic Education (CCE), o curso exige a obtenção de 300 créditos e realiza-se em 5 anos mais um ano de estágio. Sendo o quiroprático um profissional de saúde de recurso primário, o programa de estudos centra-se essencialmente na deteção e correção de problemas neuro-músculo-esqueléticos.

Há três vertentes de aprendizagem na preparação para o exercício da quiroprática:

  • a vertente principal em ciências biológicas e da saúde: anatomia, fisiologia, ciências bioquímicas e fisiopatológicas, diagnósticos clínicos e radiológicos, etc.

  • a vertente especializada em diversas disciplinas quiropráticas: estudos teóricos, prática profissional, diagnóstico e aplicações quiropráticas, etc.

  • a vertente clínica: compreende 1530 horas de estágio e de internato.

O programa engloba 2382 horas de formação teórica e 2587 horas de formação prática. Para obter mais informações sobre a formação académica e profissional do quiroprático podem consultar-se os sítios:

  • Le programme de doctorat en chiropratique de l´UQTR (Canada)

  • Parker University of Chiropractic (EUA)

  • Anglo-European College of Chiropractic-University of Glamorgan (Inglaterra)

  • Institut Français de Chiropratique à Paris (França)

  • Nordisk Institut for Kiropraktik-Université de Odensa (Dinamarca)

Nota final – A associação Portuguesa dos Quiropráticos é membro da European Chiropratic Union, estabelecida em 1932 e do World Federation of Chriopractic, e só aceita como membros da Associação, quiropráticos qualificados segundo os requisitos do Council of Chiropratic Education.

 

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